MARICÁ DAS ARTES: UM PROJETO EDUCOMUNICATIVO DE
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E DINAMIZAÇÃO COMUNITÁRIA
PELO ENSINO GRATUITO DE LINGUAGENS ARTÍSTICAS

Mário Margutti
Mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha de Pesquisa Mídia e Mediações Socioculturais
E-mail: mfmargutti@gmail.com
Resumo
Este trabalho é um estudo de caso que investiga se o Programa Maricá das Artes, projeto público de formação artística em oito segmentos, realizado na cidade de Maricá, no Estado do Rio de Janeiro, consolidou-se efetivamente como espaço de diálogo entre Comunicação e Educação, podendo, então, ser considerado um projeto educomunicativo. Também investigamos se o referido programa promoveu transformação social e dinamização comunitária na cidade onde foi realizado. Após levantamento e análise de dados, concluímos pela resposta afirmativa a todas as três indagações.
Palavras-chaves: Comunicação; Educação; Educomunicação; Transformação social; Dinamização comunitária.
1. Introdução
O primeiro objetivo deste trabalho é investigar se um programa público de formação artística em diversos segmentos (teatro, dança, música, contação de histórias, escrita criativa, fotografia, linguagens do documentário e produção cultural), consolidou-se efetivamente como espaço de diálogo entre Comunicação e Educação, configurando-se então como um projeto educomunicativo. O caso estudado é o Programa Maricá das Artes, criado em novembro de 2020 na cidade de Maricá, no Estado do Rio de Janeiro, que começou com aulas on-line, obrigatórias por causa da pandemia da COVID-19, e que continuou com aulas presenciais dentro de um equipamento público criado especificamente para ele, um Centro de Arte e Cultura criado no bairro popular de Itaipuaçu.
Como segundo objetivo, iremos analisar os resultados dos dois regimes de ensino artístico utilizados (on-line e presencial), para verificar como os professores experimentaram as diferenças 1 Trabalho apresentado na DTI 4 – EDUCOMUNICAÇÃO, no dia 28 de outubro de 2022, na Capela Carlos Alberto,
durante o XVII Congresso Ibero-Americano de Comunicação – IBERCOM 2022, realizado de 26 a 29 de Outubro de
2022 no Super Bock Arena, na cidade do Porto, Portugal, promovido pela Assibercom e pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
2entre eles, e quais as estratégias de comunicação utilizaram em suas aulas. Por fim, como terceiro objetivo, iremos checar se o referido Programa de fato obteve resultados positivos no campo da transformação social e da dinamização comunitária. 2. Referenciais teóricos
No âmbito deste artigo, adotaremos como referenciais teóricos os conceitos estabelecidos pelo especialista em Educomunicação Ismar de Oliveira Soares, pesquisador que coordena o Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. De acordo com Soares, educomunicação “designa o conjunto das ações voltadas para a criação de ecossistemas comunicativos abertos e criativos em espaços educativos” (SOARES, 2010, p. 4-5). Tais ecossistemas são “favorecedores tanto de relações dialógicas entre pessoas e grupos humanos quanto de uma apropriação criativa dos recursos da informação nos processos de produção da cultura e da difusão do conhecimento” (IDEM, p.5). Acrescenta Soares: “o novo campo apresenta-se como interdiscursivo, interdisciplinar e mediado pelas tecnologias da informação” (IBIDEM, p.-5).
No que diz respeito à dimensão pedagógica do Programa Maricá das Artes, iremos considerar o processo educativo nele desenvolvido conforme os parâmetros prescritos por Paulo Freire, que inspirou os gestores do projeto e sempre preconizou uma educação libertadora. Sua pedagogia contém uma percepção crítica da sociedade patriarcal, elitista e promotora de exclusão social na qual o Brasil ainda vive.
Por sua vez, a transformação social por meio da educação será compreendida como uma estratégia pedagógica para conscientizar o estudante acerca da realidade em que vive, para que nela possa intervir por meio da educação, em sintonia com a pedagogia do oprimido proposta por Paulo Freire. O método pedagógico criado por Freire já é considerado, por si só, como uma ferramenta de transformação social, na medida em que se preocupa com os menos favorecidos para dar a eles a oportunidade de estudar e utilizar os conhecimentos adquiridos para sua evolução pessoal e social. O diferencial do método de Paulo Freire está em considerar a educação como ato político, associada à vida cotidiana, em que o aluno é colocado no centro do processo educativo, assim como suas experiências e conhecimento de mundo. Seu objetivo prioritário é acabar com a desigualdade social.
Por sua vez, a expressão dinamização comunitária, nos limites deste estudo de caso, será compreendida como uma forma de educação popular voltada para os moradores de baixa renda, que “se fundamenta no reconhecimento da diversidade cultural, na economia popular, na multiculturalidade, no desenvolvimento da autonomia das pessoas, grupos e instituições e na promoção da cidadania” (GADOTTI e GUTIÉRREZ, 1999, pg. 8).
3Assim, a dinamização-intervenção comunitária “responde aos princípios da animação sociocultural e do desenvolvimento local”, porque é centrada “na promoção das pessoas no marco global do território, potenciando a democracia cultural como superação da democratização da cultura, para acabar na emancipação coletiva e na mudança social” (FERNANDÉZ, 2009, p. 3).
3. Metodologia
O método adotado é o do estudo de caso, obedecendo às seguintes etapas: identificação do problema de pesquisa, análise de contexto, levantamento e análise dos dados, para então apresentar as conclusões obtidas, com base nos referenciais teóricos adotados. Partindo dos depoimentos de alunos, alunas, professores e professoras do Programa Maricá das Artes, analisamos os resultados dos dois regimes de ensino artístico utilizados (on-line e presencial), para verificar como os alunos e principalmente os professores experimentaram as diferenças entre eles, e quais as estratégias de comunicação utilizaram em suas aulas, para verificar se eles se configuraram como processos educomunicativos.
O ponto de partida foi uma análise do contexto político e social do Programa, que foi desenvolvido sob a égide de uma Prefeitura gerida pelo PT – Partido dos Trabalhadores, agremiação historicamente nascida na luta de dirigentes sindicais contra o regime militar que anoiteceu o Brasil no período compreendido entre abril de 1964 e março de 1985 (21 anos de obscurantismo). Em sua Carta de Princípios2
, é afirmado com clareza: “o Partido dos Trabalhadores entende que a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores, que sabem que a democracia é participação organizada e consciente e que, como classe explorada, jamais deverão esperar da atuação das elites privilegiadas a solução de seus problemas”. O estudo mostrou que os meios de comunicação e midiáticos utilizados não foram meros instrumentos das oficinas de educação artística. Eles se converteram “no eixo vertebrador dos processos educativos: educar pela comunicação e não para a comunicação” (SOARES, 2000 p. 20), como assevera Ismar Oliveira Soares, especialista em Educomunicação da Universidade de São Paulo.
Com base nos depoimentos de alunos e alunas do Programa e nas percepções encaminhadas por escrito pelos professores e professoras do Programa o autor deste trabalho, foi possível verificar se de fato o Programa Maricá das Artes foi um agente de transformação social, nos termos preconizados pelo educador Paulo Freire e se ocorreu dinamização comunitária, de acordo com os parâmetros estabelecidos por GADOTTI E GUTIERREZ (1999, p.8) e também por FERNANDEZ (2009, p.3).
2
Disponível em https://pt.org.br/carta-de-principios-do-partido-dos-trabalhadores/. Acesso em 15/09/2022.
44. Identificação do problema de pesquisa
Partimos da seguinte questão: será que as estratégias de comunicação utilizadas pelos gestores e pelos professores do Programa Maricá das Artes, no âmbito de um projeto público e educativo de ensino de linguagens artísticas pode ser considerado um exemplo de Educomunicação? Será que os procedimentos comunicacionais utilizados podem efetivamente ser considerados como “eixos vertebradores do processo educativo”? Formaram, concretamente, um ecossistema favorecedor tanto de relações dialógicas entre pessoas e grupos humanos quanto de uma apropriação criativa dos recursos da informação nos processos de produção da cultura e da difusão do conhecimento? E que tipo de transformação social resultou da realização desse projeto e qual foi a dinamização comunitária obtida? Responder a tais questões foi o triplo objetivo do nosso trabalho.
5. Análise do contexto político e social do Programa
Maricá é um município que há 14 anos é administrado pelo PT – Partido dos Trabalhadores, que transformou a cidade de mais de 160.000 habitantes num enclave socialista dentro do território brasileiro, que incomoda os militares de extrema-direita que estão no poder em Brasília, por causa de seus programas sociais bem-sucedidos. Maricá implantou a moeda social Mumbuca, que dá suporte financeiro eficaz à parcela mais desfavorecida da população e por isso tornou-se um mecanismo imitado por quatro outros municípios vizinhos: Niterói, Visconde de Itaboraí, Saquarema e Cabo Frio. A cidade apresenta o menor índice de desemprego do Estado, por conta de programas como o PAE – Programa de Amparo ao Emprego, que garante a manutenção do trabalho formal de 20.000 pessoas no setor de comércio e serviços, além de programa gratuitos de capacitação profissional e oferta de microcrédito para pequenos empreendedores a juros baixos. O transporte municipal é gratuito, nos ônibus conhecidos como os “vermelhinhos” e, recentemente, bicicletas de uso gratuito, chamadas de “vermelhinhas”, também passaram a ser oferecidas à população nas praças públicas.
A Prefeitura conta com recursos polpudos originários dos royalties da produção de petróleo em seu litoral e, com visão de futuro, procura criar novas alternativas de desenvolvimento para a cidade, por meio do fortalecimento do turismo, da implantação de um Polo de Cinema e da criação do ICTIM – Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá, que já desenvolveu respiradores mecânicos não invasivos para contribuir no tratamento de pacientes da COVID-19. Também merece registro, entre os programas sociais criados pela Prefeitura, o Passaporte Universitário, mecanismo de concessão de bolsas de estudo para estudantes de ensino superior. Para resumir: Maricá aposta num modelo de desenvolvimento baseado na garantia de direitos. Para o prefeito Fabiano Horta, de 46 anos, a diferença das políticas construídas em Maricá com relação ao governo Bolsonaro “passa pela inclusão dos mais pobres no orçamento e pela certeza dos direitos como
5valores de uma sociedade que busca combater a desigualdade: queremos que o orçamento público seja um fomentador, um gerador desses elementos”
3
. 5.1 Premissas do Programa Maricá das Artes
O programa foi instituído pela Secretaria Municipal de Cultura e é um processo de formação artística inteiramente gratuito, aberto à participação de crianças, jovens, adultos e integrantes da terceira idade. A gestão do programa está a cargo de uma organização da sociedade civil, o IPCEP – Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional, que venceu dois editais de chamamento público da Prefeitura de Maricá e segue as diretrizes de política pública que foram estabelecidas pelo atual secretário de Cultura, Sady Bianchin:
Cultura onipresente: todas as atividades da Secretaria se pautam pela horizontalidade, pela democracia participativa e pelo objetivo de levar arte e cultura a todos os quatro distritos da cidade de Maricá. Para evidenciar esta política, foi adotado o sistema de gabinete itinerante: o secretário e sua equipe passaram a circular pela cidade e a fazer reuniões vespertinas e noturnas com os artistas e produtores culturais em bares com shows musicais, praças públicas e cafés, inaugurando assim um processo de escuta ativa das demandas dos fazedores locais de arte e cultura.
Cultura por todos: não a cultura para todos, como oferta verticalizada de eventos e atividades pelo Poder Público, mas a visão de que todos os moradores são produtores e fruidores das atividades culturais;
Cultura como “moeda social inclusiva”: ênfase na oferta de oficinas de formação artística para os moradores das classes sociais de menor poder aquisitivo, como instrumento de promoção da cidadania e mecanismo de inclusão social, fazendo clara alusão à já citada moeda social Mumbuca. 5.2 O Plano Pedagógico do Programa Maricá das Artes
Elaborado de forma coletiva, o Plano Pedagógico4 do Programa foi disponibilizado para o autor deste artigo, e instituído para alcançar os seguintes objetivos principais:
1. Capacitar crianças, jovens, adultos e idosos moradores das comunidades de baixa renda de Maricá, situadas nas proximidades do primeiro Centro de Arte e Cultura que será instalado no Distrito de Itaipuaçu;
3 A declaração do prefeito consta em matéria assinada por Maurício Thuswohl, intitulada A capital da Ursal, na revista
Carta Capital. Disponível em https://www.cartacapital.com.br/politica/a-capital-da-ursal/. Acesso em 07/julho/2022;
Em tempo: URSAL é a sigla de União das Repúblicas Socialistas da América Latina, expressão cômica criada pela
socióloga brasileira Maria Lúcia Vitor Barbosa no ano de 2001, para alfinetar políticos de esquerda que criticavam a
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas, bloco econômico criado no final dos anos 90 e comandado pelos Estados
Unidos. 4 Plano Pedagógico do Programa Maricá das Artes. Documento da Gerência Administrativa do Programa. IPCEP – Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional. Dezembro de 2020.
62. Criar, no município de Maricá, uma nova forma de desenvolvimento artístico e cultural, baseada no estímulo aos territórios criativos da cidade, começando por Itaipuaçu para no futuro alcançar outros distritos da cidade;
3. Inaugurar em Maricá um processo inédito de educação popular voltado para a inclusão social, inclusive gerando trabalho e renda através da formação artística e cultural,
4. Dar oportunidade a artistas de comprovada experiência em suas áreas de atuação para que se tornem os facilitadores de oficinas de capacitação artística, garantindo assim a qualidade do processo de ensino/aprendizagem;
5. Mobilizar e estimular novos talentos artísticos em Maricá, oriundos das camadas populares, que poderão, após a sua participação nas oficinas propostas, ganhar autonomia para criar seus próprios grupos artísticos ou serem integrados a grupos já existentes, privados ou apoiados pelo Poder Público Municipal;
6. Além da capacitação artística, oferecer palestras e cursos intensivos voltados para a profissionalização e o empreendedorismo do público-alvo;
7. Impactar a cidade de Maricá com uma visão desenvolvimentista enraizada na própria comunidade, com ênfase nas classes populares, de modo a fortalecer a integração social e contribuir para tornar Maricá uma cidade mais inteligente, mais criativa e mais sustentável.
A metodologia de Ensino foi descrita no Plano Pedagógico como colaborativa, integrativa, multidisciplinar, abrangendo alunos e alunas de diferentes faixas etárias, com aulas teóricas e práticas, centradas no educando e suas possibilidades de aprendizagem.:
6. Levantamento de Dados
Com base nas experiências vivenciadas na implantação do Maricá das Artes e nas reflexões extraídas da prática pedagógica, verificou-se que o Programa funcionou como espaço de diálogo transversal entre comunicação e educação, enfatizando os seguintes aspectos:
Divulgação do Programa: teve o uso estratégico da comunicação interpessoal para atrair alunos. Agentes culturais foram treinados para fazer contatos diretos com o público-alvo em escolas públicas, associações de moradores, condomínios populares e centros de referência em assistência social, levando em mãos as fichas de inscrição nas diversas disciplinas. Ao colocar agentes culturais em contato direto com moradores de baixa renda do distrito de Itaipuaçu, o Programa Maricá das Artes se constituiu efetivamente num processo de comunicação horizontal, que promoveu a capacitação artística de forma democrática e inclusiva.
Também foi realizada ampla divulgação nas redes sociais, com uso de posts animados e criativos. Outra estratégia eficaz: ao invés de propaganda do tipo institucional, os professores do Programa gravaram vídeos de caráter intimista, convidando alunos e alunas para suas oficinas, com apoio da
7Equipe de Audiovisual. A equipe da Secretaria Municipal de Comunicação contribuiu para o Programa criando slogans eficazes. E o designer do Programa criou peças de comunicação atraentes (faixas, banners, windbanners e os elementos de decoração interna no Centro de Arte e Cultura de Itaipuaçu). Como resultado, o Programa obteve 3.170 inscrições nas diversas oficinas.
Nesta fase de divulgação para atrair alunos e alunas para as oficinas gratuitas, usando estratégias de comunicação intimista pelas redes sociais, ficou demonstrado que a Equipe de Audiovisual e de Mídias e Divulgação se insurgiu, na prática, contra o príncipe eletrônico, metáfora criada por Octávio Ianni para atualizar o Príncipe de Machiavel (uma pessoa) e o Príncipe de Gramsci (um partido político). Para Ianni, o príncipe eletrônico é a mídia corporativa e transnacional, com destaque para a televisão, que atua como “o intelectual coletivo e orgânico das estruturas e blocos de poder presentes, predominantes e atuantes em escala nacional, regional e mundial, sempre em conformidade com os diferentes contextos socioculturais e político-econômicos desenhados no novo mapa do mundo” (IANNI, 2002, p. 14). As mídias on-line e presenciais do Programa Maricá das Artes se apresentaram como agentes de uma comunicação contrahegemônica, no contexto de uma educação artística pública e gratuita. Como um dos comprovantes dessa afirmação, basta ler a apresentação do Programa no seu site oficial5
, em palavras nada conservadoras e alinhadas com os objetivos de transformação social e dinamização comunitária:
O Programa Maricá das Artes é o modelo da cultura por todos, para encurtar as
distâncias entre as diferenças sociais. O respeito à diversidade para a construção de
um diálogo intercultural. É essencial uma política cultural que revitalize o
comportamento dos moradores e suas tradições. A cultura é um fermento para um
novo amanhã no cenário urbano, alicerçado na cidadania e na arte-educação. É
preciso observar a cultura na sua dinâmica social, centralidade nos processos
políticos. Uma cidade será mais igualitária quanto mais bem distribuído for o
acesso à cultura. É fundamental elaborar políticas públicas com o fim de orientar o
desenvolvimento da produção do imaginário social com o objetivo de
transformação da realidade (BIANCHIN, 2021).
Oficinas online: o que caracterizou esta vertente foi “seu foco na relação dos educandos com os meios de comunicação e as novas tecnologias ou, simplesmente, com a mídia” (SOARES, 2012, p. 18). Porém, acima de tudo, no Programa Maricá das Artes a comunicação não foi apenas 5 BIANCHIN, Sady. Com a palavra… Disponível em https://maricadasartes.org.br/. Acesso em 01/10/2021.
8instrumento ou objeto de estudo, mas sim, como veremos mais adiante, “um eixo vertebrador dos processos educativos: educar pela comunicação e não para a comunicação” (SOARES, 2000, p.20).
Como bem afirmou Thiago Reginaldo, doutorando em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catariana (UDESC), “a educomunicação pode ser descrita no conjunto de ações destinadas a criar e desenvolver ecossistemas comunicativos” (REGINALDO, APUD RODRIGUES, 2019). Tais ecossistemas “são articulações dos ambientes que favorecem o diálogo social e consideram as potencialidades dos meios de comunicação e suas diversas tecnologias para a educação”(IDEM, 2019). Thiago completa dizendo que existem dois princípios nos quais a educomunicação se sustenta: “a comunicação é uma ação educativa e não existe educação sem a comunicação” (IBIDEM, 2019). Essa relação pode ser compreendida assim como a utilização dos meios comunicacionais e das novas tecnologias da informação e da comunicação (TICs), em conjunto com as práticas educativas, a fim de integrar esses dois campos. Oficinas presenciais: quando puderam ser realizadas, graças ao controle relativo da pandemia do Coronavirus em Maricá, gerado por um sistema eficaz de vacinação da população proporcionado pela Prefeitura local, os recursos mediáticos também foram parte integrante nas oficinas de Fotografia, Linguagens do Documentário e Dança dos Corpos (dança contemporânea). Nessas oficinas foi realizada “uma revisão das disfunções comunicativas oriundas das relações de poder, buscando-se formas democráticas e participativas da gestão escolar, com o envolvimento das novas gerações” (SOARES, 2012, p.18). O protocolo mediático valorizou a mídia e operou “por projetos, valorizando todas as formas de expressão, especialmente a artística, tendo como objetivo a ampliação do potencial comunicativo da comunidade educativa e de cada um de seus membros” (IDEM, p. 18). No processo, “professores e alunos são igualmente aprendizes e igualmente educomunicadores” (IBIDEM, p. 18).
6.1 Resultados alcançados pelo Programa
As duas professoras contadoras de histórias para crianças, que dispunham de sofisticados recursos pedagógicos para suas aulas presenciais, no regime online reinventaram suas práticas pedagógicas e estimularam alunos e alunas a usarem recursos caseiros, tais como jornais e revistas velhas, além de cola e tesoura. Assim, elas comprovaram que a comunicação pode, sim, ser “um eixo vertebrador dos processos educativos” (SOARES, 2000,pg.20)
Alguns depoimentos de alunos e alunas que cursaram as diversas oficinas online, solicitados pelos professores e registrados abaixo6
, demonstram que o programa atingiu, de modo satisfatório, seus objetivos de transformação social pela arte.
6
Fonte: Depoimentos dos alunos e alunas do Programa Maricá das Artes. In: Relatório de Atividades Mensais do
Programa Maricá das Artes. junho de 2021. IPCEP / Gerência administrativa.
9 Venho dizer que o curso DANÇA DOS CORPOS tem sido muito proveitoso e muito importante nesse
momento que vivemos. A condução do professor Rafael Gomes é muito potente, nos desperta para um olhar
para dentro da nossa própria dança, e ao mesmo tempo pra fora, para o espaço, para o outro. Mesmo
distantes, através da tela, conseguimos nos conectar e nos comunicar como corpos moventes. O que parecia
impossível tem acontecido: um despertar, um respiro, um resgate da emoção e da sensibilidade que existe e
persiste em cada um, apesar de tudo. As referências, as técnicas e o olhar do Rafael são preciosos e nos
contagiam a cada aula. Agradeço demais a vocês todos! Fernanda Porto | 34 anos | Ribeirão Preto e São
Paulo Capital
 Gostaria de vir aqui agradecer a Prefeitura de Maricá e a todos os envolvidos no Programa MARICÁ
DAS ARTES. Consegui a vaga para as minhas filhas na oficina de BALÉ CLÁSSICO no fim de abril, e estou
imensamente feliz em ver a alegria delas por estarem fazendo algo que elas gostam tanto. Principalmente
neste momento, em que nossas crianças estão mais presas dentro de casa, devido à pandemia. Esse projeto é
incrível e espero que possa alcançar muitos outros jovens e crianças. Agradeço mais uma vez pela
iniciativa. Yasmin Tavares Sales Cardoso | Isabella Tavares Sales Cardoso | Itaipuaçu, Maricá
 Olá, meu nome é Thábata, tenho 18 anos e Participo da turma de Teoria Musical do professor Maurício.
Sempre quis aprender a tocar um instrumento e tudo o que faltava era o conhecimento sobre a teoria
musical, mas agora isso não é mais um problema, sinto que estou aprendendo mais e mais com as aulas.
Sem contar que virou um dos meus passatempos preferidos ler e fazer as atividades passadas pelo professor. As aulas são ricas em conteúdo e com muita troca de conhecimento entre todos. Thábata | 18 anos | Maricá Professora Tatiana, eu quero agradecer por te me falado da oficina de CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, eu
adorei bastante, e também estou adorando a aula de ESCRITA CRIATIVA, é uma coisa muito, muito
bacana. Luiz Miguel Bernardo, 9 anos
 Eu estou gostando muito da oficina de FOTOGRAFIA URBANA E DOCUMENTAL. Tem muitas coisas
interessantes que eu não sabia. Cada dia há uma coisa nova a se aprender, e não vejo a hora de pôr tudo o
que estou aprendendo em prática – e ter minha própria câmera! Pretendo trabalhar com isso, e acho
incrível porque poderei trabalhar com algo que realmente gosto. E também não vejo a hora de ter as aulas
práticas. Espero que a pandemia acabe, para que eu possa ter aulas presenciais. Ana Júlia de Lima
Fernandes | 18 anos | Maricá
Numa segunda etapa, tornou-se possível aumentar o número de oficinas do Programa, que passaram a ser as seguintes: Balé Clássico / Terminologia do Balé / Dança dos Corpos / Dança Afro / Teatro Popular / Teatro para Jovens / Teatro para Adultos / Violão Popular / Clarineta / Trompete / Flauta transversal / Breve História da Música / Solfejo Fotografia Urbana e Documental / Fotografia Criativa / Linguagens do Documentário / Produção Cultural. Nesta fase, as aulas puderam ser online e também presenciais, uma vez que foi criado o Centro de Arte e Cultura de Itaipuaçu, com espaços adequados para aulas de dança e teatro, atividades para crianças e que conta, inclusive, com uma biblioteca comunitária para empréstimo gratuito de livros. Trabalhando com um universo de
103.170 alunos e alunas que se inscreveram nas oficinas, os professores do Programa puderam desenvolver cursos de maior duração, que culminaram na realização de uma Mostra de Arte e Cultura, na Lona Cultural de Itaipuaçu, equipamento cultural da Prefeitura, gerido pela Secretaria Municipal de Cultura. Em seguida, o Programa entrou numa fase de transição, ofertando oficinas de curta duração no Centro de Arte e Cultura de Itaipuaçu, enquanto a equipe do projeto, em agosto de 2022, começou a planejar a retomada das oficinas de maior duração.
6.2 O papel da comunicação no processo educativo
O autor deste trabalho colheu os depoimentos de professores do Programa, que encaminharam por escrito suas visões pessoais das experiências vividas no regime de aulas pela internet e no regime de aulas presenciais, para verificar como os meios de comunicação (pessoais, pedagógicos e tecnológicos) funcionaram e se foram eficazes (ou não) dentro do processo de ensino/aprendizagem. Vejamos um desses depoimentos, sobre a experiência vivia no regime online:Durante os meses que tivemos aulas online, precisamos nos adaptar e criar uma
nova forma de ensinar fotografia. Uma das maiores dificuldades, foi conseguir
fazer os alunos perderem a timidez e deixarem as câmeras dos celulares e dos
computadores ligadas. Pois com a expressão facial conseguimos saber se estão
com dúvidas e gostando da aula. Com o avanço do curso, as câmeras se tornaram
essenciais. Apresentei técnicas que eles reproduziam com o próprio celular, e me
enviavam as fotografias. Assim pudemos nos conhecer e concluir o curso. BRUNO
GRANADEIRO, professor de Fotografia Documental e Urbana, agosto de 2022).
Este depoimento mostra que houve mudança na atitude pedagógica do professor durante o regime de aulas online e também um uso inteligente dos meios tecnológicos à sua disposição. Nessa perspectiva, o professor deixa de ser o todo poderoso detentor do conhecimento, e passa a atuar como um mediador consciente entre o conhecimento e os estudantes, que ganham voz ativa e maior liberdade dentro do processo de ensino/aprendizagem. Com base em referenciais teóricos de estudiosos brasileiros da Educomunicação, verificamos que no Programa Maricá das Artes a comunicação não é mero instrumento, nem mera ferramenta de mediação na transmissão de conhecimentos, mas um “eixo vertebrador dos processos educativos: educar pela comunicação e não para a comunicação” (SOARES, 2000, pg.20). A prática das oficinas comprovou que é necessário rever o sentido da ação comunicativa presente no ato educativo (seja presencial, seja à distância), como preconiza Soares, “na direção de um ponto de mutação dentro do campo da interrelação comunicação/educação” (IDEM, p. 13). Do mesmo professor Bruno, eis seu depoimento sobre as aulas presenciais:
11Diferente das aulas online, fazer parte de uma turma presencial possibilita um
maior contato com os alunos e assim podemos colocar em prática as técnicas que
aprendemos durante as aulas de fotografia. Ensinar com um equipamento físico,
permite que muitos alunos conheçam uma câmera digital e aprendam a manusear
o equipamento. Os alunos descobrem a sensação de controlar uma câmera e
conseguem fazer ótimas fotografias. IDEM, agosto de 2022.
Este professor verificou aspectos bastante positivos nas suas aulas presenciais, vendo nelas maior facilidade
para a transmissão de conhecimentos técnicos. Mas trata-se de uma constatação que não pode ser
generalizada, na medida em que seu colega Gustavo Stephan, professor de Fotografia Criativa, sentiu-se
muito mais confortável no regime de aulas pela internet:
No regime online o tempo da aula é mais flexível. Geralmente as aulas eram mais
extensas e ficou mais fácil repor o conteúdo. Outra coisa boa foi poder
disponibilizar com facilidade o material didático que estava todo no meu
computador. O problema maior é em relação com falhas de conexão. No início,
também tive um pouco de dificuldade com a tecnologia. No presencial, dependo
mais da estrutura do local de trabalho. Hoje vejo mais vantagens em dar aulas
online, prefiro. No online tenho um maior controle quando não me oferecem uma
estrutura adequada. As aulas rendem mais, percebo que os alunos ficam mais
focados. Para mim é um futuro sem volta. Acho que o online é muito bom para
cursos. Para a escolaridade, só como apoio, o contato direto com o professor é
fundamental. A vantagem do presencial é o contato, a relação entre os alunos e o
professor, e também a relação entre os próprios alunos entre si, que são muito
mais estreitadas. GUSTAVO STEPHAN, professor de Fotografia Criativa, agosto
de 2022.
Este depoimento possibilita constatar as vantagens do uso adequado dos meios tecnológicos nas aulas à distância e também como é importante usar equipamentos técnicos adequados nas aulas presenciais. Nesta perspectiva, podemos asseverar, que existe “uma essencialidade da comunicação nas relações educativas; comunicação não é simplesmente um ‘recurso’ ou uma ‘ferramenta’ a serviço da didática, mas é uma condição essencial e inerente a um autêntico processo educativo; é um processo gerador de conhecimento” (SOARES, 2006).
Na época em que ministrou aulas online, Yure Silva, professor de Percussão (Ritmos Regionais Brasileiros)
e do instrumento Ukulelê, soube reinventar seus procedimentos tecnológicos para aperfeiçoar o processo de
ensino/aprendizagem, como o demonstra este seu depoimento:
O desafio de estabelecer uma comunicação plena entre os participantes das
oficinas de Percussão e Ukulelê no programa Maricá das Artes no modo online, se
12mostrou complexo e intenso, já que os meios utilizados para esses encontros eram
limitados, no que diz respeito à conexão pela internet e aos equipamentos
disponíveis nas casas dos participantes, assim como na minha. Considerando o
atraso de imagem e som (delay) que ocorrem nessas situações, alguns exercícios e
atividades, principalmente as práticas em conjunto, eram prejudicadas, pois
necessitavam serem efetuadas em sincronia. Porém, algumas plataformas digitais
oferecem meios de organização de tarefas que atenuaram esse desafio e
proporcionaram um melhoramento na interação, como o armazenamento de
arquivos editados (vídeos, imagens e textos) e o fácil acesso à conteúdos na rede
que somaram aos assuntos tratados durante o curso. Uma das estratégias das
minhas oficinas foi a utilização do metrônomo online como parâmetro para
execução dos exercícios de ritmo. Outra estratégia recorrente foi utilizar
equipamentos e softwares de gravação e edição de áudio para obter uma
qualidade melhor de captura e execução dos sinais sonoros, como microfones,
headsets e placa de áudio específica para gravação. YURE SILVA, professor de
Percussão e Ukulelê, agosto de 2022.
Este depoimento vai ao encontro do “reconhecimento do direito dos agentes sociais (professores, alunos, membros da comunidade educativa) ao acesso aos recursos da informação, bem como a uma capacitação para seu uso a partir de uma perspectiva dialógica, dialética e participativa”, de que nos fala SOARES (2006). Por ser um programa público e gratuito nos moldes da educação libertadora preconizada por Paulo Freire, pode-se afirmar que no Maricá das Artes existe, como prescreve SOARES (2006), uma “gestão democrática dos procedimentos e dos recursos da informação inerentes ao processo comunicativo (democratizando, pela mediação tecnológica, as relações no interior do sistema educativo)”. O depoimento de Yure Silva referente às aulas presenciais corrobora que o conhecimento pode ser considerado uma construção coletiva:
As oficinas que ministrei no modo presencial se deram em dinâmicas de grupo,
onde cada participante era considerado aluno e professor simultaneamente. Ou
seja, a comunicação era horizontal feita em roda, trocando os saberes empíricos
de cada um, comungando as práticas e exercícios sugeridas e ouvindo as histórias
e as motivações do interesse de cada participante pelas oficinas. Houve quem
quisesse apenas aprender como se faz um toque específico do pandeiro, houve
quem se inclinasse mais às práticas em grupo como forma de interação social, e
também houveram casos de participantes que tinham o sonho de viver da música.
Portanto minha estratégia nas oficinas presenciais esteve diretamente ligada à
comunhão dessas diversas motivações na tentativa de contemplar formas de
13acessibilidade musical, bem estar corporal e a consciência coletiva que permeiam
as manifestações da cultura popular. YURE SILVA, agosto de 2022.
O depoimento desse professor corrobora a premissa de que “professores e alunos são igualmente aprendizes e igualmente educomunicadores” (SOARES, 2012, p. 18).
Outro depoimento, de Guto Neto, professor de Linguagens do Documentário e coordenador da Equipe de Audiovisual mostra como o ensino de meios de produção se tornou, também, processo pedagógico. Mostra, também, como a Equipe de Audiovisual se insurgiu, sempre, contra as formas antiéticas de comunicação de massa, contrapondo-se ao príncipe eletrônico descrito por Otavio Ianni:
O trabalho da equipe audiovisual do programa Maricá das Artes dá relevância ao
processo de produção como meio de aprendizagem. A preparação da filmagem, as
ideias que norteiam a montagem dos materiais captados e a preocupação com a
repercussão dos filmes gerados permeiam o fluxo de criação e produção, de modo
responsável e ético. Lidamos com pessoas, suas ações e sentimentos e isso é
basilar para o desenvolvimento do trabalho de nossa equipe audiovisual no
Maricá das Artes. GUTO NETO, agosto de 2022.
Já no campo da educação à distância, Guto Neto reconhece que há desafios a serem vencidos, mas que ele
encontrou estratégias pedagógicas para motivar seus alunos e incentivar o diálogo entre os educandos:
O ambiente online no contexto da educação ainda impõe desafios, pois
invariavelmente, nos leva ao afastamento dos corpos, tão importantes para os
processos de comunicação e aprendizagem. “O corpo fala” afirmou o grande
cineasta Eduardo Coutinho e nas minhas experiências na educação a distância
procuro promover dinâmicas que estimulem a interação entre os estudantes,
apresentando questões mobilizadoras que os levem à pesquisa e a à necessidade
de troca para a elaboração de conceitos. GUTO NETO, agosto de 2022.
7. Conclusões
Com base em Danilo R. Streck, que estuda as relações entre educação e transformação social, o programa de ensino artístico aqui analisado se caracteriza pelo “empenho por transformar os espaços educativos, novos e antigos, em ethos de humanização” (STRECK, 2009, p.89), repensando a transformação social “no próprio movimento de transformação” e entendendo “a utopia como algo aberto, dinâmico, em construção” (IDEM, p. 98), na convicção que uma pedagogia transformadora é aquela que “combina a forte inserção na realidade com a capacidade de imaginar
14novos cenários” (IBIDEM, p. 98). Adaptando seus métodos pedagógicos em tempos de pandemia, motivando os alunos de baixa renda e com resultados expressivos no campo das artes, podemos, sim, afirmar que o Programa Maricá das Artes promove transformação social. Inspirada por Paulo Freire, a equipe do Programa articulou uma proposta educomunicativa centrada na utopia como sonho maior e possível (FREIRE, 1995, p.83). Para tanto, foram alinhados três fatores: a compreensão da história como possibilidade e não como determinismo (IDEM, p.30); a história que se processa no mundo é feita pelos seres humanos e que os faz e refaz (IBIDEM, p.26); e a incompletude do ser humano, “com sua vocação para o ser mais” (IBIDEM, p.83). A Mostra de Arte e Cultura realizada ao final do segundo ciclo de oficinas demonstra que o Programa também dinamizou as comunidades de Maricá, revelando os talentos de alunos e alunas de diversas faixas etárias.
Para finalizar este trabalho, peço permissão às mentes acadêmicas para recorrer a palavras poéticas do escritor brasileiro Rubem ALVES, retiradas da sua crônica Gaiolas e asas, publicada no jornal Folha de S. Paulo no dia 5 d dezembro de 2001:
Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, esse
aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas”. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo.
Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode
levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de
ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não
amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem
para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer,
porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode
ser encorajado (ALVES, 2001).
A “escola” pública, gratuita e informal que constitui o Programa Maricá da Artes certamente pertence à categoria das escolas-asas, que encorajam seus alunos a voar em direção ao ser maisproposto por Paulo Freire. Em fase do exposto, concluímos que o Programa Maricá das Artes é de fato um projeto educomunicativo nos termos conceituados por Ismar Pereira Soares, e promove sim, a dinamização comunitária, nos termos preconizados por GADOTTI, GUTIÉRREZ e FERNADÉZ, além de ser um celeiro desse gênero de professores que amam o voo de seus alunos e acreditam efetivamente em “transformar vidas através da arte”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. Gaiolas e asas. Opinião/Folha de S. Paulo, 5 de dezembro de 2001.
15FERNANDÉZ, Xosé Cid. Intervenção comunitária e práticas de inclusão. In: Cadernos de Estudo 14. Universidade de Vigo: Escola Superior de Educação de Paula Frassineti, novembro de 2009.
FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d’Água, 1995. _____________. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, M. e GUTIÉRREZ, F. (1999), Orgs: Educação comunitária e economia popular. São Paulo: Cortez Editora, 1999. IANNI, Otávio. O príncipe eletrônico. São Paulo: Perspectivas, 1999.
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: um campo de mediações. In: Comunicação & Educação, São Paulo, (19), p. 12-224, set-dez 2000.
STRECK, Danilo R. Educação e transformação social. In: Revista Lusófona de Educação, 13, p. 89-100. Rio Grande do Sul, UNISINOS, 2009.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
SOARES, Ismar de Oliveira. EAD como prática educomunicativa: emoção e racionalidade operativa. Universidade de São Paulo. Julho de 2010. Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/3.pdf. Acesso em: 15/agosto/2002. __________________________. Educomunicação e educação midiática: vertentes históricas de
aproximação entre comunicação e educação, de Ismar Oliveira Soares, in revista Comunicação & Educação,
Ano XIX, Número 2, Jul/dez de 2012. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/72037. Acesso em 05/julho/2022. _________________________. Sobre educomunicação, seus procedimentos e metodologias. Disponível em: http://www.usp.br/nce/?wcp=/aeducomunicacao/ texto,2,46,231. USP, 2006. Acesso em 20/07/2022.
THUSWOHL, Maurício. A capital da Ursal. In: revista Carta Capital. Disponível em https://www.cartacapital.com.br/politica/a-capital-da-ursal/. Acesso em 07/julho/2022.
RODRIGUES, Thiago. Comunicar é educar. Disponível em:
https://www.ceale.fae.ufmg.br/pages/view/comunicar-e-educar-1.html. CEALE, FaE / UFMG, 2019. Acesso em 30/agosto/2022.

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